A alma de África, a ligação entre a vida e a morte, o limbo antes do verdadeiro fim. E a análise do que passou, ficou, foi dito e não dito. É este o mote do mais recente livro do enorme Pepetela, distinguido e premiado escritor angolano, e que junta aos reconhecimentos anteriores o II Prémio de Literatura dstangola/Camões 2020. A Feira do Livro de Braga assinala esta honra, a vida e obra do escritor e, sobretudo, o livro “Sua Excelência, de Corpo Presente”, com o qual venceu o prémio atribuído pela empresa bracarense dstgroup, mecenas da Feira do Livro.

Para regressar à história deste livro de Pepetela, pseudónimo literário de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, é necessário ir de encontro à alma de África e ao cenário central da obra: “num enorme salão deitado num caixão jaz um ditador africano. Está morto, mas vê, ouve e pensa. Assim estirado, aprisionado num corpo sem vida, mas na posse das suas faculdades intelectuais, só lhe resta entreter-se a recordar as peripécias vividas com muitos dos que lhe vieram dizer adeus, entre os quais se encontram diversos familiares, a primeira-dama (e as outras mulheres e namoradas), os numerosos filhos e as altas dignidades do Estado.”

E é aqui que toda a ação se desenrola. A personagem central vai relembrando a sua vida, o percurso até à presidência, os vários anos no cargo e “os meandros do poder político, o nepotismo que o corrói e os vários abusos permitidos a quem o detém”. Não querendo avançar muito na história, porque os livros devem é ser lidos, vai-se conhecendo na obra o quão difícil é para um “ditador deixar de o ser, Sua Excelência não só vai tecendo considerações sobre os presentes e os seus interesses políticos, como tenta adivinhar os seus pensamentos e maquinações.”

De África para a Europa e para Braga, para referir que hoje, a partir das 22 horas, vai ser possível ficar a conhecer um pouco mais (em transmissão online) sobre este livro e sobre o Prémio Literário dstangola/Camões, que atribui um galardão no valor de 15 mil euros, alternadamente, a uma obra de poesia ou prosa editada por autores nascidos naquele país africano. É uma iniciativa do dstgroup em parceria com o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua e que vai já na segunda edição.

No ano de 2020, o Prémio foi então atribuído a um dos mais reconhecidos escritores de nacionalidade angolana. Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) tem já uma longa lista de aclamadas obras, numa carreira consagrada, em 1997, com o Prémio Camões. Nasceu em Benguela, em 1941, passou por Lisboa para frequentar o Ensino Superior, tendo concluído a licenciatura em Argel, durante o exílio. Iniciou a sua atividade literária e política na Casa dos Estudantes do Império, foi membro do MPLA e teve uma participação ativa na governação de Angola, após o 25 de Abril. Foi ainda professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e dirigente de associações culturais, com destaque para a União de Escritores Angolanos e a Associação Cultural Recreativa Chá de Caxinde.